quarta-feira, 23 de junho de 2010

6 meses


Dia 21, segunda, completei 180 dias sem cortar o cabelo. Está grande e as pessoas não encontram mais outra alternativa para frescar comigo. Isso é legal. De certa forma mostra a pequena capacidade inventiva que têm os que me rodeiam. Queria ver alguma outra desculpa para falarem mal de mim. Não sei contar piadas? Já foi, todos sabem. Espero sempre para ver o tipo de deboche que vão inventar contra mim.

A verdade é que adoram me tachar. Adoram tachar todo mundo. "Você é isso e pronto, não há como mudar". De vez em quando, alguém acredita e vira o que os outros dizem. E de vez em quando, alguém acredita e me faz virar o que os outros falam. Me transformo num clichê. Aí vem a exclusão social. E aí todos começam a me odiar sem ao menos me conhecer. E tudo por causa do cabelo.
_Por que você não corta, então?
_E virar um fraco?! Brincadeira. A verdade é que tudo isso não me importa.

Pois é, 6 meses...
_Tá pagando alguma promessa?
_Não.
Perguntam o porquê de deixá-lo crescer.
_No momento em que estou, esqueci. Mas havia um significado, havia sim. E quando alguém ironizava meu estilo, eu, superior, respondia: "primeiro aprenda o que é arte, depois aprenda o que é cultura, ou simplesmente aprenda o que é moda. Aí você poderá falar mal de mim". Só que hoje apenas deixo passar...

Pois é, 6 meses e acabei esquecendo da minha convicção.
Talvez amanhã eu vá ao cabeleireiro perdê-la de vez.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Festival dos Inhamuns!


- E nossa próxima parada é no V Festival do Inhamuns – Circo, Bonecos e Artes de Rua, aqui no Ceará! Haverá uma nova experimentação do espetáculo Lâminas na rua e uma apresentação do grupo Poemias do Mundo - irei participar dos dois =D. Já estamos arrumando as malas (pelo menos eu, os outros já arrumaram) e já amanhã iremos para Arneiroz (acho que é essa cidade mesmo).

- Hoje de manhã houve um "debate" (teatralmente falando) no curso de español. Uns eram a favor e outros eram contra a bater nas crianças para "educá-las". Fui em defesa da lei que está em processo de aprovação para que os pais que baterem nos seus filhos, mesmo que em pouca frequência e com pouca força, passem por tratamentos psicológicos. Sei que no final acabei apelando pra o poema "Avisão" de Ray Lima, e me emocionei junto com o pessoal da classe.

- E nessa próxima sexta haverá o IV Sarau Literomusical do Colégio São José. O tema desse ano é "No Ceará é Assim". Mesmo não estando presente, por causa da viagem, estarei participando: na ideia do slogan do evento e (talvez) com uma poesia que fiz junto com a Rayanne Keully, falando sobre Cordel no Ceará. Digo talvez porque entreguei a poesia em cima da hora e não sei se será apresentada. Se puderem ir, fiquem à vontade para ir no colégio (provavelmene a entrada é gratuita).

terça-feira, 18 de maio de 2010

PERDI FEIO


E foi feio mesmo o 2º jogo do Interclasse de Basquete do Colégio São José, ontem na praça Capistrano de Abreu, a partir das 18:40. Eu, David e Yuri contra Roberto, Alef e Alvin (pessoal lá da sala). Primeiro ponto foi do Roberto, e me preocupei. Não poderíamos perder. Eu era o único que treinava e, obviamente, o único que sabia jogar. 1 x 1, fiz o segundo ponto da partida.

Eu definitivamente estava mal naquele dia*, não acertava mais nenhum arremesso, nem o do lance livre: o time adversário fez 6 faltas e sobrou pra mim. Errei feio.

*Na verdade eu estava bem sim, quando estava batendo racha, 30 min antes de começar o torneio. Fiz cesta, marquei bem ("o foda é que ninguém toca pra ti!" - falei pra um cara que eu tava marcando) e meu time ganhou todas. Saí e depois voltei, confiante. Porém fiz merda alguma...

Mais um ponto, dessa vez não me lembro quem foi, mas não foi nosso - 2 a 1 pra eles. O jogo estava cada vez mais emocianate. Ser eliminado na primeira? Ah não! Tínhamos que fazer algumas coisa, e quando faltavam 7 segundos, junto aquela contagem regressiva dos torcedores, arremessei. Passsou direto, mas caiu bem nas mãos do David. Ele arremessou. 3... 2... 1 CESTA!

Empatamos no último segundo. Fomos para os lances livres, onde cada um tinha um arremesso e se fizessem, acabava o jogo. Errei os dois que tive direito nas duas rodadas. O David quase conseguia. Já tinha previsto a nossa derrota e quem marcou foi o Álvaro.

Não fiquei triste. Acompanhei os outros jogos com meu amigo Jerson até a final, que o time do 3º ano ganhou num jogo incrível contra o do 1º - os dois times eram/são ótimos. Foi 10 x 9. A noite estava bem legal... Mas o único problema é que não dei o melhor de mim na hora certa. Eles precisavam me ver no racha. Eu me preparei e me energizei o dia inteiro. Talvez por não ter usado na hora certa foi que nós perdemos. Se der, mais tarde trago vídeos pra vocês conferirem o Interclasse com comentários meus e do meu amigo Restart -Alan -, que estava filmando.

Esse dia foi muito louco, mano! LOL


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Giletes do ser universal navalha


Depois do espetáculo em Horizonte - 27 de Abril, para um grupo de crianças leitoras - , realizamos outra apresentação do Lâminas no CCBJ (Centro Cultural do Bom Jardim) dia 6 desse mês, em Fortaleza.

Preferi o primeiro pelo espaço, pela minha atuação e pelo público (no final as crianças correram para abraçar o Ray e nos pediram autógrafos). Tudo foi 'energizante' naquele dia. Brincamos, criamos e fizemos as coisas com muita tranquilidade. Alguns choraram depois que sentiram a força do espetáculo. Achei que pelo menos eu fui bem melhor.

No outro foram acrescentados mais elementos (tanto objetos como falas inventadas na hora). A iluminação foi bem melhor, mas o espaço tinha menor amplitude, mesmo também sendo um palco. Havia menos gente, porém é como disse o Jair (percussionista e cenopoeta do Pintou Melodia na Poesia): _ É melhor uma apresentação com poucas pessoas e haver um debate do que um espetáculo com um monte de gente e quando termina o povo vai embora.

O público (muito difícil) foi jovens e crianças eufóricas - riam e bagunçavam sem parar - do Bom Jardim. A maioria assistiu metade e saiu. Os outros ficaram até o final e falaram o que sentiram e o que gostaram no espetáculo - fiquei com vontade de perguntar o que não gostaram. Ouvimos e debatemos juntos. Adorei as reflexões, que ficaram abertas também para um poema recitado por Ronaldo (um espectador). Foi o espetáculo onde se viu mais interação e participação da plateia, talvez.

Acho que todos que viram gostaram mais do último espetáculo. E têm razão: o lugar era melhor (ainda que um pouco menor), as luzes foram bem usadas pela equipe técnica, o público foi mais complicado (tem que ser, já que, como o Ray, disse "é deles que estamos falando"). Talvez o que tenha feito eu preferir o primeiro foi a minha energia. Eu estava com uma energia boa em Horizonte. Essa semana não... A cidade me deixa frio mesmo.

Aguardando pelos próximos espetáculos dia 13 e 27 de Maio no CCBJ

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Trabalho Escolar - por Jadiel Lima


Aqui está o meu novo quadrinho, que começei ontem e terminei hoje pensando em um trabalho escolar, intitulado "Trabalho Nota Zero", que fiz para um professor. Mesmo eu tendo atingido em parte o propósito do meu trabalho - em parte, pois tirei nota 8 -, de mostrar a falta de estímulo à criatividade aos alunos pelos professores, fiquei com um pouco de indignação, já que o professor reclamou do meu ar rebelde e discordou totalmente do que eu falei na atividade - na verdade ele nem entendeu.

Enfim, ignore a introdução do post e interprete como quiser a HQ:
Nota: falei pra interpretar como quiser, mas o que as crianças estão usando para fazer os tijolos seria argila. Minha irmã disse que parece merda. Merda também é uma boa ideia do que poderia ser, daria um bos significado. Enfim, esquece...

sábado, 27 de março de 2010

Desenhando...


Normalmente as pessoas ficam me rotulando por minhas piadas - sem graça. É verdade que muitas delas não fazem o menor sentido, mas, pow! Na maioria das vezes elas nem entendem o que eu quis dizer, ficam olhando umas paras as outras e dizem "Ahn?" sarcasticamente, como se eu tivesse falado em outra língua ou falei? XD. Mas, tipo, elas não parecem entender. Aí eu mentalizo:
_Será que vou ter que desenhar?

E foi assim que começei - estou começando - a fazer essas tirinhas e cartuns.

Continuo tentando bolar algumas coisas aqui em casa, mais tarde eu posto e vejo se elas conseguem me entender de verdade...

sábado, 20 de março de 2010

Opa!


Opa! Escrevi essa outra postagem antes de mostrar a técnica com o PAPEL-MACHÊ. Essa aqui é uma tirinha que eu fiz, sem compromissos, e tirei uma foto (não tenho scaner ,). Curta-a, se der pra rir eu agradeço...


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domingo, 14 de março de 2010

Olá, pessoal. Percebe-se que não estou muito ativo no blog. Porém não fiquem tristes, brevemente mostrarei como reciclar papel e outras coisinhas de um modo legal e prático. continue visitando o blog e os links na barra lateral da página. Até mais!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cantadas de Carnaval


Carnaval, ah o carnaval... Os quatro dias em que nosso ouvido vira pinico, nosso estômago um depósito de lixo químico e nosso cérebro tende a pensar em sacanagem mais ainda. Porém não podemos desperdiçar nossas mentes sujas férteis quando elas demonstram seu auge de criatividade. E foi exercitando minha imaginação que eu consegui bolar um monte de cantadas de carnaval!

Então, aqui vai (me perdoem por eu ter usado tão mal minha cabeça) :

No mela-mela:
1. _Vamos aproveitar essa goma e fazer uma tapioca?

2. _Aqui tem muita gente. Vamos se melar lá em casa?

Na festa:
3. _A música é uma merda, a bebida é uma merda, as pessoas só tão pensando e fazendo merda... Até agora a única coisa que eu vi que não é merda é você.

4. Fala para duas pessoas:
_Tão afim de fazer um trio elétrico?

5. Fala pra alguém que não tenha fantasia:
_Onde você arranjou essa fantasia de mulher gostosa?

6. _Você é top-model?
_Não, porquê?
_Sua fantasia é boa, então...

7. Diz uma dessas cantas horríveis e depois:
_Se você ficar comigo prometo nunca mais dar cantadas tão horríveis.

É isso aí pessoal... São poucas, são podres, mas testem essas cantadas nesse carnaval, assim sobra mais pra mim.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Hoje eu vi...

Hoje eu vi uma vaca!

Devia estar perdida e passou perto do portão da minha casa.
Eu a avistei por algum tempo, mas não tive o privilégio de tirar uma foto.
Ela foi embora e eu, maravilhdo comecei a escrever isto.

É incrível como nos afastamos desses animais da selva quando estamos nas cidades.

Não tirei foto, mas fiz uma ilustração

Breve diálogo



_Por que os brasileiros não valorizam a própria cultura?
_Como alguém poderia valorizar a cultura de um povo que não valoriza a própria cultura?

sábado, 23 de janeiro de 2010

UM ESCAMBO DE MUITA PAZ

" Por Ray Lima







Um Escambo de paz
O Escambo de São Miguel do Gostoso foi isso. Um encontro de paz e relação amorosa entre os artistas e a cidade. Amor à primeira vista. Para se ter uma ideia estávamos tomando café numa padaria, depois de uma viagem cansativa de nove longas horas de Fortaleza para São Miguel, quando fomos abordados por uma garçonete nos perguntando se éramos do Escambo. Respondemos que sim. Ela então nos informou, apontando para uma senhora que também lanchava na padaria, que não precisávamos pagar nada porque aquela senhora bancava nossas despesas. Em seguida, D. Ieda, como se chama, pediu licença, sentou conosco e quis saber mais sobre o movimento. Após uma boa conversa confirmou a informação da garçonete, indo mais além: resolveu nos adotar arcando com o café da manhã para o grupo Pintou Melodia na Poesia, durante todo o evento. Uma demonstração de solidariedade e compromisso com a vida cultural da cidade. Coisa que a própria prefeitura não demonstrou. É claro que chegando à escola onde nos alojamos propusemos um revezamento entre os grupos presentes para compartilhar o saboroso café. Assim o Escambo se deu no mais puro convívio com a comunidade e sua população, sem incidentes, sem problemas.

Da força e do saber coletivo de repente se improvisa
Já diziam os grandes mestres que improvisa quem sabe, quem tem acúmulo e criatividade suficientes para agir sobre a orientação de um plano mínimo sem se perder nem vacilar. Ninguém consegue improvisar em cima do nada. Pois bem. O Movimento Escambo Popular Livre de Rua tem revelado essa capacidade. Em seus 20 anos de luta, resistência e poder criativo tem proporcionado aos escambistas e às pessoas dos lugares aonde vamos momentos de extrema riqueza artística e produção do comum que mobiliza e encanta. Quem não conhece o processo do Escambo pode imaginar um caos ou algo muito organizado, exaustivamente planejado e ensaiado para se chegar a tantos resultados com qualidade. A força da participação e da gestão coletivas faz desse movimento uma potência real com poder de realização impensável nas condições e conjunturas em que tem atuado.

A experiência de produção e gestão dos jovens
Não há dúvida de que a coordenação local do encontro tendo a frente Filippo Rodrigo e Patrícia Caetano, apoiados pelos componentes do Bando La Trupe, deu o mote da tranqüilidade, do ambiente de paz e democracia. Acho que eles inovaram ao não cobrar das comissões de organização do encontro e do próprio coletivo o cumprimento de suas tarefas. Os contratos, os acordos eram firmados e cada grupo que tratasse de dar conta, não havendo maiores cobranças nem pressão sobre quem quer que seja. A conseqüência é que desta forma acabava ficando mais claro quem estava blefando. Neste caso todos se beneficiando ou pagando altos preços de acordo com a postura e a atitude de cada comissão e ou do todo presente. Isso poderia ter levado ao caos como poderia gerar um processo de conscientização que, em parte trouxe reflexões importantes, puxando a responsabilização pela realização do evento para o coletivo e não apenas deixando-a pesar sobre os ombros, como de resto em alguns casos também ocorreu, do grupo que sediou o encontro. Contanto, foi um Escambo de bons espetáculos, de boas conversas, discussões e debates profundos; de escambares animados e participativos; de banho de mar, birita para alguns e luta serena e pesada (ainda) para outros. Talvez seja esse último um dos pontos que permanecem como desafio a ser superado pelos escambistas: a sobrecarga nos grupos anfitriões. Acreditamos que as coisas mudarão à medida que o Escambo for se tornando mais ESCAMBO, quando se enraizar em cada um de nós como prática e cultura coletiva.

Presença do Amir
O fato de o Amir estar participando dos encontros do Movimento Escambo, além de acrescentar-lhe importância, traz-lhe também uma contribuição do ponto de vista estético, filosófico, político muito grande. O Amir Haddad tem a madureza, o acúmulo teórico e prático de quem fez opção pela rua quando poderia estar desfilando pelas coxias e palcos do teatrão. O Boal, seu velho amigo e grande mestre dos oprimidos, se foi, mas ele segue firme conosco a refletir e a nos cutucar com a língua pontuda de suas utopias. O Amir não é propriamente um intelectual da rua ou do teatro popular. Ele é um exímio pensador do nosso teatro, do Brasil, da contemporaneidade. Suas ideias e reflexões estão impregnadas de humanidade, de gosto pela vida, pela alegria de ser gente a partir do olhar artístico, estético. Noutras palavras nos engrandece, alimenta e nos honra. É verdade que, como ele mesmo diz, aprende com o movimento, mas sempre traz muitos ensinamentos. E obviamente não é daqueles que chega com tudo na maleta para despejar, não é de fazer conferência, pré-fabricar teses e empurrá-las a qualquer custo. Aliás, não anda com nada. Sequer carrega uma mochila, uma pasta, um caderno. Não usa data show nem exibe imagens prontas. Confia na memória e em sua potente tecnologia do pensar de improviso, de processar os olhares sobre o mundo, transformando-os e traduzindo-os simultaneamente para algo visível a olho nu, inteligíveis, ao alcance de qualquer mortal. Um homem sem apetrechos, leve. Um filósofo sem frescura nem pantim. Lembrando o João Cabral de Melo Neto, em “catar feijão,” o Amir é cuidadoso e preciso no que fala. Vai colhendo-lendo com maestria imagens e fatos do cotidiano, do que se passa ao seu redor como se debulhasse uma espiga de milho e processasse os grãos que vai selecionando rapidamente para nos ofertar, transformando aquilo que há pouco era um cereal cru, duro e quase sem gosto, um manjar-munguzá do saber gostoso, nutritivo, rico e novo. Porém, faz isso sem o medo de revelar como se dão os mecanismos de produção de conhecimento - sem apontar receitas ou fórmulas fáceis, mas ajudando-nos a aprender a gostar de pensar e repensar nosso fazer artístico - e de como fazer uso dos conhecimentos que produzimos para construir estratégias de existência digna, emancipadoras, de intervenção na história e nos contextos de injustiça e desigualdade social do Brasil e do mundo. No entanto, tenho observado desde Umarizal que alguns grupos não atentaram para o privilégio de contar esse mestre das artes de rua e da cultura popular em nossos encontros e de efetivamente tê-lo como escambista. Uma presença pedagógica, marcante e inovadora sempre porque produz suas reflexões a partir do que está vivendo.

Da produção à apropriação dos modos de produção
Do poder de capital não há o que esperar. Do poder político, preso às amarras dos financiamentos de campanhas eleitorais e à indústria das propinas; e, por outro lado, pressionado pela massa desesperada e oprimida pelos dois muito menos. Resta-nos apostar no poder popular advindo do âmago desses desesperados ainda não tragados pela onda do desespero.

“resta agora abdicar[1]
desse poder que fere e mata
e nos arrasta para uma arena desigual
onde o boi é o bandido
e a plateia o oprimido no varal”

Entre estes estamos nós artistas que podemos desempenhar um papel fundamental para a transformação desse quadro desbotado que parece nunca descobrir e assumir outras cores. Chegou a hora, cito o poema que diz muito sobre o Escambo e o desafio de ser artista popular no Brasil:

“ É PRECISO QUE SEJAMOS FILÓSOFOS
É preciso aprender a semear com a máquina do tempo[2]
É vital, mais que vital inventar
Vida e verdade, sonhos e realidade
Razão com alegria bailando
Sobre o espelho das águas perenes.

Ainda esperamos coitados as chuvas do céu
Quando devemos fazer chover no chão de caos e ilusão
Umedecer as pedras, fazê-las verter poesia
Transformar em vida a energia do sol em desperdício
Que hoje nos flagela e definha

A fome indústria cega e daninha há de ser
O instrumento maior de transformação
Tinta e pincel
A reflexão, o painel sobre a eterna falta
Sobre a miséria a ação, o desenlace sem queda
A inteligência carcomida pela força da moeda
Será o túmulo dos canibais de consciências

É imprescindível e inevitável que sejamos filósofos
Filósofos de nós mesmos
Criadores e semeadores da nossa própria filosofia
Recriadores confessos do nosso rosto
Decoradores do espaço reservado à nossa causa
Defensores incessantes do grito de liberdade
Do motivo do nosso choro, da grife do nosso riso

Precisamos estar sempre dispostos a corrigir nossos costumes
Mergulhar no abissal dos nossos valores culturais
Para que venhamos festejar nossa vanguarda
Celebrar a estética do brilho estelar da nossa alma

A estiagem haverá de ser o nosso eterno objeto de estudo
A resistência nosso princípio nossa viagem”

Para tanto, temos que solucionar alguns probleminhas aparentemente bestas, mas que refletem o quanto precisamos avançar para sermos autogestores, autônomos, livres, emancipados. O poeta Reginaldo, numa pequena roda de diálogo, daquelas espontâneas, falava sobre a questão da alimentação e do transporte que são nós críticos ou estrangulamentos carecedores de saídas mais sustentáveis, precisando ser discutidos e levados à prática pelos grupos. O poeta defende que esses dois itens devam ser uma responsabilidade de cada grupo como era, em parte, no início do movimento. Cada um produz suas condições para chegar e estar em cada encontro. Parece castigo para quem não dispõe de políticas culturais e sociais consistentes nos municípios ou radicalismo por parte do poeta, mas entendemos que proposições como essas podem servir para refletirmos sobre a construção de autonomia e não dependência dos grupos em relação não só aos encontros do Escambo, mas ao seu fazer artístico onde vivem. Por que não pensarmos numa economia do Movimento Escambo? Como nos sustentamos hoje e o que precisamos para garantir nossa longevidade com decência? Não sei como seria, não sou economista. Mas se pensarmos que a pessoa, a família mais pobre do mundo consegue inventar maneiras para viver, sustentar-se vivo, por que nós artistas populares não aprofundamos o tema e investigamos sobre a invenção de nossa própria economia, fora da lógica de mercado, a partir da experiência do existir de vinte anos? Quais nossas reais potências? Que tecnologias e estratégias de sustentabilidade estão produzindo nossos grupos em seus lugares? Qual o potencial de troca que possuímos? Como desenvolver uma economia, uma produção cultural inspirada nas próprias tecnologias acumuladas pelo Escambo? Na cultura popular há vários exemplos de modos de existir, resistir. Onde estão e como mapear tais experiências? Quantas famílias antigamente passavam o ano produzindo para se manter e guardar algum trocado para ir às festas da padroeira da cidade. Era uma verdadeira produção: plantar, regar e colher para no dia da festa está de roupa nova, sapato novo e alguns trocados para brincar e espraiar sua alegria de interagir com o outro e compor com brilho a humanidade da festa. A lógica era: se preciso ir à festa, gosto e necessito de brincar tenho que criar as condições, trabalhar com afinco para garantir minha presença participante na festa. Como beber nessas fontes? Nós artistas temos o poder da expressão que vale por muitos mercados. A expressão, como diz Amir Haddad, “é uma conquista e não uma dádiva divina. A expressão é uma necessidade absoluta do ser humano e por isso não pode estar submetida a dogmas ou ideologias.” Não seria aí que residiria nosso poder de fogo, nossa potência para tornarmos o mundo e a vida na terra mais leves, sustentáveis e prazerosos. Se somos capazes de recriar o mundo por meio da arte o seremos para inventar uma economia que seja mais favorável às nossas práticas vitais. Portanto, se o escambo é troca e todo mundo quer trocar, mãos à obra que outros escambos estão para acontecer. Entretanto, não basta querer ir aos encontros, é vital que nos façamos significativamente presentes pelo papel que desempenhamos em nossos grupos e pela ação que praticamos para o fortalecimento desse coletivo revolucionário e em pleno voo.

Fortalecendo a ideia de ocupação dos espaços públicos, principalmente as ruas.
Muito embora sem cercear outras possibilidades, não temos como abdicar das ruas como espaço primordial de nossas práticas culturais. Ocupar as ruas é, como diz Amir Haddad, dar-lhe mais humanidade, mais alegria, paz. É torná-la mais pública, menos privatizada e mais democrática. Não podemos aceitar que privatizem as praças, os logradouros públicos. Eles existem para serem lugares de gente feliz, de convívio social.

Deixando o ser artista mais forte
Aqui nos utilizamos das palavras do Ricardo, de Fortaleza, para ilustrar o que o Escambo representa para nós, seja para está chegando pela primeira vez, seja para quem tem anos de estrada:

“OI GENTE LINDA. Pois é . . . mais um ESCAMBO em nossas vidas.
Muita Arte em toda parte.

Deixa EU contar uma coisa pra VCs.
Esse ESCAMBO com toda sua dificuldade pra mim foi de muita superação.
E é esse o sentido de ESCAMBAR de TROCAR, vc entende realmente o sentido do Movimento.
Vc se encontra nele, vc contribui com o que pode.
Esse de Gostoso (São Miguel do Gostoso-RN) mexeu muito com as pessoas que estavam indo pela primeira vez.
E mexeu mais ainda naquelas que já estão no movimento há mais tempo.
Uma coisa é certa cada ESCAMBO com suas diferenças, suas semelhanças e suas Historias. Volto mais fortalecido, pois o ESCAMBO nos faz isso.
Fortalece mais e mais os grupos que dele participam.
E a ideia é sempre continuar ESCAMBANDO pelo meio do mundo, levar esse movimento além do horizonte.

Um Grande abraço pra todos e todas que tornaram possível esse XXV ESCAMBO. "
Ricardo Furão - escambista, pastor da chama real e loirim

Paramos por aqui. Ando ainda entre o furor da alegria escambista e a anestesia da tristeza pela perda de um irmão querido.

"Hoje eu ouvi um bem-te-vi[3]
Cantar cantar
Também ouvi o juriti
Dizer que a vida é feito um canto
Quem canta encanta
Então é feliz
É tão bom cantar
Cantar cantar cantar
Tomara que essa gente
Seja assim feliz
Pois sou feliz cantando”


[1] Lima, Ray. Lâminas. Expressão Gráfica. Fortaleza 2009.
[2] Lima, Ray. Tudo é Poesia Vol. I Queima Bucha 2 ed. Mossoró-RN 2005
[3] Musica de Jadiel Guerra "



Postado no Blog
Cenopoesias do Brasil (wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com) pelo escritor, cenopoeta, poeta, ativista cultural e ator Ray Lima.

Essa foi uma reflexão sobre o primeiro Escambo Livre de Rua de 2010, ocorrido na cidade de São Miguel do Gostoso-RN.





quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

E já estamos de volta...


E já estamos de volta do mais GOSTOSO Escambo que já existiu. Com trocadilhos e tudo mais, o encontro cultural e artístico planejado em pouco menos de um mês foi marcado pela grande participação do povo da cidade de São Miguel do Gostoso - RN, mesmo não tendo o apoio da prefeitura. As pessoas estavam muito bem informadas sobre o movimento e isso possibilitou uma grande repercussão dos trabalhos.

Vários cortejos movimentaram as ruas e as praias do local, terminando em rodas com apresentações teatrais ou trazendo o público para o Escambar (música e poesia em um bar da cidade). Os grupos se organizaram em comissões para dividir o que seria realizado e discutir o que já havia sido produzido, assim todos participaram ativamente do evento. No final, foram produzidas, trocadas e compartilhadas muitas coisas ao decorrer de oficinas, intervenções, conversas e, enfim, das atividades presentes em todo o encontro.

Brevemente divulgarei mais coisas e inclusive imagens e o jornal oficial do escambo, ESCAMBIOSE, que teve uma pequena participação minha (mas já valeu xD). Quando eu adiquirir o modelo eletrônico certamente postarei-o aqui, no Blog do Jadiel.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

XXV ESCAMBO - SÃO MIGUEL DO GOSTOSO



O vigésimo quinto Escambo Livre de Rua acontecerá na cidade litorânea de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, de 15 a 18 de Janeiro desse ano. Mais notícias sobre o encontro serão divulgadas aqui e no blog Cenopoesias do Brasil (wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com).

Só lembrando que o espetáculo Lâminas, junto ao lançamento do livro homônimo de Ray Lima, estará presente.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pra quê?


Pra que te despetalar
Se te quero é flor inteira?
Se em parte juras me amar
Mais que todas as roseiras
E na outra, dos desprezos,
(se ainda me resta) desejo,
Pra eu não morrer aos pedaços,
Sem teus beijos e amassos,
Breve desfecho:
Um sorriso e um abraço?